As duas semanas passadas foram, para mim, férteis em filmes sobre Vilarinho da Furna. Assim, no dia 6, Domingo, fui assistir ao "Vilarinho das Furnas"  do saudoso António Campos,  no âmbito do Ciclo de Cinema Português, dos 50 Anos da Gulbenkian. Filme que, em boa hora, esta mesma Fundação apoiou financeiramente, nos idos de 1970, na sequência de um primeiro pedido que eu lhe fizera, na minha ingenuidade de pós-adolescente, quando me propus fazer um filme sobre a minha terra, prestes a desaparecer, mesmo sem máquina de filmar. Não tinha sequer, por essa altura, uma simples máquina fotográfica. Mas tinha algumas ideias... e isso era o mais importante!

Foi um reviver dos últimos dias da aldeia comunitária, com um afogar de saudades, na sala ao lado daquela em que assistira à antestreia do mesmo filme, em 1971.

No Sábado passado, foi a  oportunidade de ver,  pela primeira vez, em minha casa, com a presença do realizador (um luxo!), o filme "Vilarinho da Furna - Memória de uma Aldeia", de 1980,  do meu amigo Fernando Curado, que também já não encontrava desde há uns bons vinte e tal anos. Trata-se de um filme realizado por ocasião do total esvaziamento/enchimento da barragem, por 1979/80. Onde não aparece vivalma. Apenas a aridez de uma terra, coberta por água durante quase uma dezena de anos, e os esqueletos das casas, de uma aldeia que já fora, e das árvores que teimam em resistir, mesmo debaixo de água. Uma paisagem a lembrar Hiroshima, depois da bomba atómica.

E não deixou de me vir à memória o anúncio feito, com pompa e circunstância, no Jornal A Época, de 22 de Maio de 1972, dia seguinte à inauguração da barragem de Vilarinho da Furna, de que estavam ali criadas as condições para a instalação da primeira central nuclear em Portugal. É mesmo caso para perguntar: Que mal fizemos nós, (Antigos) Habitantes de Vilarinho da Furna, para sermos assim tão mal tratados por este país?